Dia 101 – O Erro de Salomão

templo
1 Reis, 6:11-13 – (11) Então veio a palavra do Senhor a Salomão, dizendo:  (12) Quanto a esta casa que tu estás edificando, se andares nos meus estatutos, e executares os meus preceitos, e guardares todos os meus mandamentos, andando neles, confirmarei para contigo a minha palavra, que falei a Davi, teu pai; (13) e habitarei no meio dos filhos de Israel, e não desampararei o meu povo de Israel.

A palavra de Deus é muitas vezes secreta e se esconde por detrás daquilo que não é dito. Prendemo-nos tantos aos rituais que perdemos a noção de que é preciso atentar-se a tudo, a qualquer movimento. Deus, ser supremo e contenedor, ele não tem palavras vazias nem caminhos de retorno. Tudo o que se refere a ele, por mais sutil que seja, sempre carrega uma mensagem subliminar que somente pela inspiração é possível perceber.
Salomão recebeu um legado de seu pai: reinar sobre Israel pautando-se antes de mais nada pela justiça divina. Esse é um requisito indissociável, sem o qual é impossível seguir em frente.
Num momento de inconsciência, Deus apareceu-lhe nos sonhos e perguntou-lhe o que desejava. Ele, amparado pela sabedoria construída pela justiça que vertiam dos olhos de David, pediu que lhe desse a sabedoria para que julgasse e, antes de mais nada, reinasse baseado em pressupostos que fizessem o povo caminhar no caminho correto. Deus assim fez.
Mas a sabedoria é resultado de vida e não princípio. A sabedoria está em todos os lugares, mas consolida-se apenas pelo cimento da vivência e da experiência. Sabedoria são as pedras que colecionamos dos caminhos e que carregamos na bolsa. Nosso corpo é frágil e não consegue carregar todo o peso o tempo todo, mas somente aumentando o peso pela pedra depositada na bolsa. Salomão, enfim, ganhou as pedras de Deus mas seu corpo sucumbiu para carregá-las.
Um pouco antes de morrer, David o chamou em seu leito e lhe disse que ele haveria de trilhar o caminho da justiça de Deus. Aquela mesma que foi dita a Moisés, e que atravessou os anos. Saul falhou no cumprimento e, por isso, o povo sofreu com batalhas e mais batalhas, até que ele morreu. Em seu reinado, David seguiu seu caminho, obedecendo antes de mais nada à inspiração divina que o fazia trilhar e isso fez com que o reino prosperasse, que as pessoas vivessem e, principalmente, que se aproximassem de suas dádivas. David disse-lhe “segui as leis de Deus e terás Deus a seu lado. Ele jamais o desempará”.
Salomão, com sua bolsa de pedras, decidiu pela criação de seu templo. Imaginou que com aquilo concluiria o que seu pai não fizera, ou seja, criar uma casa para Deus. Deus respondeu-lhe que, sobre a casa, se ele seguisse suas leis, ele habitaria no meio de Israel. Ora, essa foi a mesma promessa antes da ideia do templo e, portanto, sua criação em nada mudou o que Deus lhe prometera, ou seja, habitar entre aqueles que lhe seguissem o caminho.
Deus não espera de nós os rituais, mas o doce calor de nossa alma se rendendo à sua majestade através das ações de seguir seus desígnios. Deus não requer nenhum templo, nenhum ouro, pois tudo é contido nele já que ele contém o mundo todo. Deus é superior pois qualquer grandiosidade é parte dEle e, portanto inferior.
É preciso compreender, e isso deve ser uma das primeiras pedras a colocarmos em nossas bolsas, que nada no mundo é grandioso o suficiente para agradar a Deus, pois tudo lhe é menor. A única coisa que podemos oferecer a Deus e que está à sua altura é o próprio Deus e, para isso, precisamos ser ele em essência e ação. Nada, absolutamente nada poderá modificar essa verdade inconteste, pois tudo é menor que ele.
Várias vezes nos defrontamos com situações extremas ou corriqueiras onde nosso amor por Ele é colocado à prova. Não temos como negar que, como humanos, somos muitas vezes tentados e erramos. David, Senhor sábio de Israel, cometeu um erro atroz com Urias, e nem por isso Deus abandonou-lhe, pois Deus compadece-se. Compadecer-se, como falamos, é enxergar a ação pelos olhos das emoções que demoveram. Deus o condenou a perder o filho, mas mesmo na condenação não o abandonou. Porque? Porque Deus compreende nossa essência e avalia o nosso querer seguir seu caminho pelo coração e não pela razão.
Salomão errou por não compreender a profundidade das palavras de Deus e, principalmente, por tentar achar em sua própria razão, um lugar mais alto que a majestade do próprio pai. Não houve traição, nem desejos perversos, mas a desatenção da sabedoria não consolidada frente a simplicidade da vida, como Deus a pôs. Deus contém o todo, e a construção em nada mudou o preceito de Deus e seus fundamentos. O que muda, de fato, não são as ações, mas a pureza das emoções que nos guiam. Seguindo dentro da lei divina, sempre teremos Deus a nosso lado, vivendo entre nós. E, sendo assim, mesmo defronte do maior de todos os pecados, Deus será justo e nos condenará, mas ainda assim habitará conosco.
Perdemo-nos na tentativa, tal qual Salomão, de criar labirintos e maravilhas para nos salvar. Esquecemos da grandeza e completude de Deus. Ele é o todo e, como tal, não precisa de nada. O que lhe falta é a centelha que depositou em nosso envólucro para que, carregando as pedras, a devolvamos melhores, fortalecidos, sábios e consolidados nessa sabedoria.
Não precisamos de templos. Precisamos de centelhas.

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